O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por meio do Ministério da Cultura, autorizou a captação de R$ 1,35 milhão via Lei Rouanet para o espetáculo “Tabaris Dancing ou Cabaré Máximo, toda gerência é feminina”, uma produção teatral que propõe reimaginar a trajetória de mulheres que administraram um famoso prostíbulo no centro de São Paulo no início do século 20.
A proposta do espetáculo, segundo sua sinopse, é "reimaginar, a partir de fragmentos históricos e da ficção, a trajetória das mulheres que administraram esse emblemático espaço no centro de São Paulo". A ideia seria jogar luz sobre um aspecto pouco explorado da história urbana e feminina, dando palco a narrativas marginalizadas.
No entanto, a decisão de aprovar uma verba tão expressiva para uma obra com esse enredo levanta críticas e questionamentos. Em um país com deficiências estruturais em áreas como saúde, educação básica e segurança, a destinação de mais de um milhão de reais — ainda que via incentivos fiscais — para um espetáculo sobre um cabaré pode soar como uma afronta ao senso comum.
Incentivo cultural ou elitismo travestido?
A Lei Rouanet, criada para fomentar a cultura brasileira em sua diversidade, frequentemente é alvo de polêmica pelo uso da verba em projetos que parecem beneficiar apenas uma elite cultural ou propor temas com apelo restrito. Críticos argumentam que o financiamento estatal ou incentivado de arte deve priorizar o acesso da população mais carente à cultura, promover a educação e a formação de plateias, além de preservar manifestações culturais tradicionais e populares.
O espetáculo em questão, com sua proposta conceitual e enfoque histórico-ficcional sobre a vida em um prostíbulo, dificilmente atenderá ao público médio ou atingirá áreas periféricas. A quem serve, então, esse tipo de produção? A liberação do recurso abre espaço para o debate sobre o critério de aprovação de projetos: o que é de interesse público, e o que é simplesmente experimentalismo bancado com dinheiro do contribuinte?
Arte não é censura, mas também não é cheque em branco
É fundamental deixar claro que criticar o uso de recursos públicos para certos tipos de arte não é o mesmo que pedir censura. A liberdade artística deve ser preservada, mas isso não impede que se questione o uso de verbas públicas — diretas ou indiretas — em obras de apelo duvidoso para o público geral.
Enquanto escolas carecem de estrutura básica, centros culturais em regiões afastadas do eixo Rio-São Paulo enfrentam escassez de recursos, e bibliotecas públicas são abandonadas, aprova-se R$ 1,35 milhão para uma peça sobre um cabaré do século passado.
Esse tipo de decisão reforça a percepção de que a cultura financiada pelo Estado brasileiro, muitas vezes, está desconectada da realidade da maioria da população. O incentivo à arte deve ser plural e democrático, mas também deve ser responsável.
Blogdoriquelmofreitas

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